Christine (2016)

by - terça-feira, maio 08, 2018


Este filme conta a história de Christine Chubbuck, a primeira pessoa a cometer suicídio em directo na televisão. Poderá ser um grande spoiler para muitos (peço desculpa), mas é um facto. Nos anos 70, ela era repórter num canal da Florida, nos Estados Unidos, e lutava contra a depressão.

Remetida várias vezes para reportagens de segundo plano e que fugiam ao objectivo que ela perseguia - que era ter um verdadeiro impacto social com as suas histórias - acabou por ficar obcecada quando surgiu uma vaga importante noutro canal. Depois de o chefe lhe apontar que as suas causas não geravam audiências, começou, por todos os meios, a procurar histórias mediáticas, mas que não geraram o sucesso esperado.

Christine perde a cabeça várias vezes e outras tantas se vai levantando e tendo novas ideias, tudo em nome do estatuto que julga que lhe pertence. Vai-se afastando dos seus colegas, gerando discussões e momentos embaraçosos que vão afectando também a relação com a sua mãe, com quem vive. Tudo culmina no momento em que ela não vislumbra outra solução para o sucesso, para as audiências ambicionadas e para o mediatismo desejado do que dar um tiro na própria cabeça, em directo. Tinha 29 anos.

Apesar da estranheza deste acto e de ser fácil fazer um filme também ele mediático acerca do mesmo, não foi esse o caminho escolhido - e ainda bem. Conhecemos Christine como ser humano, como alguém que tem por dentro algo muito negro e inexplicável, mas que é uma pessoa como tantas outras a trabalhar por um objectivo. Sentimos facilmente a empatia e é com calma que acompanhamos o desenrolar das suas desilusões. Não é um simples filme sensionalista e comercial que explora uma grande tragédia - longe disso. É subtil, tem detalhe e sofisticação, num excelente trabalho de realização de Antonio Campos.

Não há palavras suficientes para descrever o profissionalismo e o trabalho da actriz Rebecca Hall para se colocar no papel de Christine. É simplesmente divinal sem qualquer tipo de alarido, é uma coisa natural, mas complexa, que só é possível com uma preparação fora de série. Também já tinha saudades de ver Michael C. Hall (o eterno Dexter) no grande ecrã.

Um filme que passou fora dos grandes circuitos comerciais mas que foi nomeado e ganhou vários prémios em festivais de cinema mais low-profile. Recomendado.

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