"Não sei como vou morrer, não sei se vou ter tempo para pensar. Mas, muitas vezes, quando tenho de fazer avaliações importantes, imagino como seria se estivesse para morrer. E estou. Quem está vivo, está para morrer.
Os moribundos libertaram-se das ilusões. Nessa queda, o que não importa é leve, desprende-se e fica para trás. São acompanhados apenas por aquilo que pesa. Morrem nus.
O julgamento dos moribundos é mais livre.
Não saber o que se quer é um luxo de quem tem demasiadas possibilidades. Os moribundos sabem sempre o que querem.
A morte é uma balança.
Talvez quem esteja a ler estas palavras já saiba como vou morrer, como morri."
in O Caminho Imperfeito, de José Luis Peixoto
Conseguissemos nós o desprendimento e a leveza daqueles que já nada esperam, que têm um desejo único e total - talvez o mais importante das suas vidas prestes a terminar. Talvez esse ensejo derradeiro seja a motivação que precisemos, quando ainda longe da morte, não conseguimos descortinar o caminho. Mas, enfim, seremos eternas almas, quais traças, a vaguear ao redor das várias possibilidades de luz, até ao fim. Desde que não nos esqueçamos, como o autor menciona no livro mencionado, "o caminho também é um lugar".
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