Que aprendam a fazer rotundas e a usar os piscas. A sério. A vida de todos melhoraria bastante, seus desastres do asfalto.
Finalmente vi o filme-terror-sensação do fim deste verão, mas digamos que foi muita parra para pouca uva, que é como quem diz, não valeu a ponta de um chavelho. Prometeram-me sustos e cenas macabras mas só obtive bocejos e tédio, ou então estou uma pessoa muito exigente no que ao terror diz respeito.
A freira é uma das icónicas vilãs da saga The Conjuring e tinha tudo para ter uma backstory aceitável, mas talvez o facto de não ter James Wan ao comando das operações tenha contribuído para o resultado ser um bocado "meh". Traduzindo para linguagem de gente, o argumento é pobre e foi esticado ao máximo, espremido para dar uns quantos copos de sumo, mas aquilo podia caber num pequeno shot.
Os clichés são mais que muitos. A história é básica e previsível. Os actores não são grande coisa. As tentativas de meter humor ali para o meio são apenas tristes e desapontantes. Há uma personagem em especial, Frenchie, cuja utilidade é mandar bitaites para aliviar a tensão, e quase sinto vergonha alheia por aquele actor. Valha-nos uma banda sonora porreira e uma fotografia aceitável, que não chegam para salvar a desilusão que senti.
Vale o início e o fim do filme. O resto é encher chouriços. Ainda bem que não fui ver isto ao cinema. Talvez seja destinado a uma geração mais recente que se contenta mais com o visual e com o ambiente da coisa, ou com o susto fácil. Ou então estou uma cínica, ou só de mau humor.
Adoptei um gato. Pensava eu. À medida que o bicho foi crescendo, vi que me tinham dado gato por lebre, ou neste caso, por javali. Comecei a reparar nas crescentes presas laterais e no pelo crespo, no formato do focinho, e pensei "foda-se, adoptei um javali".
Depois de pensar no que fazer à vida, visto que seria uma crueldade manter um javali num T2 e com mais 3 gatos, resolvi deixá-lo na Arrábida, perto das comunidades de javalis que por lá andam. Um animal destes só estaria bem na natureza, e perto dos seus pares. E lá fui, despedindo-me com saudade.
Quando o despertador tocou foi o choque total - foi tão brutal que pensei que o javali me estava a atacar por tê-lo abandonado e saltei da cama pronta a correr. Antes de me aperceber que foi tudo um sonho, ainda arranjei tempo para esta imagem me vir à cabeça:
Depois de pensar no que fazer à vida, visto que seria uma crueldade manter um javali num T2 e com mais 3 gatos, resolvi deixá-lo na Arrábida, perto das comunidades de javalis que por lá andam. Um animal destes só estaria bem na natureza, e perto dos seus pares. E lá fui, despedindo-me com saudade.
Quando o despertador tocou foi o choque total - foi tão brutal que pensei que o javali me estava a atacar por tê-lo abandonado e saltei da cama pronta a correr. Antes de me aperceber que foi tudo um sonho, ainda arranjei tempo para esta imagem me vir à cabeça:
"F... é um homem arrebatado, irascível, pundonoroso até o delírio. Receio do seu carácter e da violência das suas determinações uma explosão que teria podido talvez ser-lhe fatal."
in O Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão (1870)
pun·do·no·ro·so |ô|
(pundonor + -oso)
adjectivo
Que tem pundonor; denodado; brioso.
Plural: pundonorosos |ó|.
E como fiquei practicamente na mesma...:
pun·do·nor |ô|
(espanhol pundonor)
substantivo masculino
1. Sentimento de dignidade, brio. = AMOR-PRÓPRIO, HONRA
2. Recato, decoro. = PUDOR
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Esta veio da língua portuguesa no tempo da Maria Caxuxa, e tem talvez ali um travozinho espanhol. De qualquer maneira, todos aspiramos a ser pundonorosos de certa forma, amando quem somos, sendo honrados e dignos, permitindo-nos andar de cabeça erguida como um verdadeiro cavalheiro ou dama deve andar. Ao mesmo tempo, sem espalhafacto, metidos na nossa vida, perpetuando o respeito pelo decoro da vida alheia, e não só. Ser pundonoroso, apesar de soar a doença contagiosa, até é fofo.
Na série Bodyguard, disponível na Netflix, Richard Madden (Game of Thrones) interpreta David Budd, um herói de guerra veterano que agora trabalha numa unidade que tem como missão proteger membros do governo. Depois de um episódio em que se evidenciou ao salvar inúmeras vidas numa tentativa de ataque terrorista, foi destacado para proteger e acompanhar a Secretária de Estado, Julia Montague.
Foi uma relação algo turbulenta ao início, visto que Montague, bastante conservadora, defendia valores e medidas que iam totalmente contra os princípios de Budd, principalmente no que toca ao envio de tropas em situações militares. O especialista em protecção e segurança, sendo um profissional acima de tudo, manteve uma abertura na relação entre os dois e os três primeiros episódios mostram uma viragem surpreendente na maneira como os dois, que têm de trabalhar muitíssimo de perto, se relacionam.
Mais do que o tema relacional entre Budd e Julia, vamos assistindo ao crescente suspense, a um puzzle político que vai aos poucos sendo montado, e à consagração de um dos melhores argumentos do mundo televisivo deste ano, que acaba por nos prender a respiração no fim de cada acto e, basicamente, não conseguimos parar de ver, até porque existem inúmeras situações inesperadas e surpreendentes, o que não é assim tão banal dentro do género. Os momentos de tensão estão absurdamente bem feitos, deixando-nos paralisados, embasbacados e babados em frente à televisão.
O casting é soberano mas, claro, o destaque é todo para Richard Madden que, por ser figura central, leva o peso todos aos ombros. Safa-se lindamente, interpretando um homem duro, no entanto perturbado, que é também pai e é, e quer continuar a ser, um dos profissionais de topo na segurança nacional e por isso, é também impenetrável e inabalável (pelo menos à primeira vista).
Uma escola em Vigo está nas bocas do mundo por causa de uma disciplina de sucesso, destinada aos rapazes - trabalho doméstico.
Lá, eles põem o avental, e aprendem o básico de lidar com uma casa, que inclui, entre outras tarefas, limpar, lavar a roupa, aprender a cozinhar, passar a ferro, e até mesmo aprender algumas técnicas de costura.
Ora isto é uma disciplina realmente útil, que não só os prepara para poderem viver sozinhos ou em comunidade sem quaisquer problemas, como promove a igualdade de género. Porque estas coisas não são trabalho de mulher, são de todos. E, ao compreender isto, estes rapazes serão também homens melhores.
Só tenho uma crítica - isto devia ser também para meninas, porque ser gaja não garante talento e predisposição para estas coisas. Basta olhar para mim que, tirando gostar de cozinhar, preferia perder um dedo mindinho e nunca mais fazer nada do resto. Mas pelo menos sei fazer... há garotas que são umas verdadeiras atadas (e mimadas) que faleceriam caso tivessem de morar sozinhas e sem ajudas.
De qualquer maneira, é uma grande ideia, que irá certamente fazer muita gaja (e gajo) feliz.
Fonte: CM Jornal
Lá, eles põem o avental, e aprendem o básico de lidar com uma casa, que inclui, entre outras tarefas, limpar, lavar a roupa, aprender a cozinhar, passar a ferro, e até mesmo aprender algumas técnicas de costura.
Ora isto é uma disciplina realmente útil, que não só os prepara para poderem viver sozinhos ou em comunidade sem quaisquer problemas, como promove a igualdade de género. Porque estas coisas não são trabalho de mulher, são de todos. E, ao compreender isto, estes rapazes serão também homens melhores.
Só tenho uma crítica - isto devia ser também para meninas, porque ser gaja não garante talento e predisposição para estas coisas. Basta olhar para mim que, tirando gostar de cozinhar, preferia perder um dedo mindinho e nunca mais fazer nada do resto. Mas pelo menos sei fazer... há garotas que são umas verdadeiras atadas (e mimadas) que faleceriam caso tivessem de morar sozinhas e sem ajudas.
De qualquer maneira, é uma grande ideia, que irá certamente fazer muita gaja (e gajo) feliz.
Fonte: CM Jornal
Ah, a Assembleia. Esse bando de bois que decide o nosso destino de cu sentado, que nos espeta uma bandarilha hipotética no lombo no meio de subidas de impostos, que nos toureia, ludibriando, abanando mantos vermelhos à nossa frente para não vermos o nosso futuro terrível.
E depois há o deputado do PSD, Luís Campos 'Olé' Ferreira, o boi mais boi de todos, o que nos dá a estocada final e nos fica a ver estendidos no chão, a apontar o dedo e a rir, tirando fotos para mostrar aos seus comparsas de cabelo à beto e sapatos de vela, como um perfeito bully da lezíria.
Quando há dias decorreu a votação para o Orçamento de Estado 2019 relativa à redução do IVA das touradas para 6% e os votos foram favoráveis, o queridinho saído da era medieval mas com telemóvel na mão - vá-se lá perceber esta viagem temporal - proferiu o seguinte:
"Aí está o Grupo de Forcados do Largo do Rato. Vai dar entrada o touro!" - e largou um "Olé", antes de pôr a tocar a música das touradas que anuncia a entrada dos touros.
Epá, que classe! Que mostra valente de respeito no palco da democracia. E que risinhos, palmadinhas nas costas, provocou, por parte dos seus comparsas de patilhas e bolsos avantajados. Não sabia que aquilo era o jardim infantil, pensava que era apenas um tacho comum.
Opiniões diferentes, todos temos. Temos de viver em comunidade, de uma forma de outra, porque estamos todos no mesmo barco, este buraquinho único que vê o sol pôr-se no horizonte. Esta atitude de adolescente reprimido que ainda não saiu do armário provoca-me vergonha alheia. Estas merdas despertam o pior das pessoas. Assim sendo, quando a mulher do senhor lhe puser os corninhos, alguém devia lá estar para lhe dar um "Olé" caridoso, ou quando o seu filhote disser que é gay, dando-lhe o desgosto da sua fútil vida, alguém devia pôr a tocar o YMCA, e um gajo vestido de latex devia sair de trás da porta e enrabá-lo. Porque tudo na vida fica melhor com banda sonora e exemplos visuais, não é?
E depois há o deputado do PSD, Luís Campos 'Olé' Ferreira, o boi mais boi de todos, o que nos dá a estocada final e nos fica a ver estendidos no chão, a apontar o dedo e a rir, tirando fotos para mostrar aos seus comparsas de cabelo à beto e sapatos de vela, como um perfeito bully da lezíria.
Quando há dias decorreu a votação para o Orçamento de Estado 2019 relativa à redução do IVA das touradas para 6% e os votos foram favoráveis, o queridinho saído da era medieval mas com telemóvel na mão - vá-se lá perceber esta viagem temporal - proferiu o seguinte:
"Aí está o Grupo de Forcados do Largo do Rato. Vai dar entrada o touro!" - e largou um "Olé", antes de pôr a tocar a música das touradas que anuncia a entrada dos touros.
Epá, que classe! Que mostra valente de respeito no palco da democracia. E que risinhos, palmadinhas nas costas, provocou, por parte dos seus comparsas de patilhas e bolsos avantajados. Não sabia que aquilo era o jardim infantil, pensava que era apenas um tacho comum.
Opiniões diferentes, todos temos. Temos de viver em comunidade, de uma forma de outra, porque estamos todos no mesmo barco, este buraquinho único que vê o sol pôr-se no horizonte. Esta atitude de adolescente reprimido que ainda não saiu do armário provoca-me vergonha alheia. Estas merdas despertam o pior das pessoas. Assim sendo, quando a mulher do senhor lhe puser os corninhos, alguém devia lá estar para lhe dar um "Olé" caridoso, ou quando o seu filhote disser que é gay, dando-lhe o desgosto da sua fútil vida, alguém devia pôr a tocar o YMCA, e um gajo vestido de latex devia sair de trás da porta e enrabá-lo. Porque tudo na vida fica melhor com banda sonora e exemplos visuais, não é?
"Parou diante da janela de Silvestre a observar o prédio, andar por andar. Fingindo-se absorto no trabalho, o sapateiro olhava-o à sorrelfa. Era de estatura mediana, moreno, e não aparentava mais que trinta anos. Vestia daquela maneira inconfundível que mostra estar a pessoa a igual distância da pobreza e da mediania."
in Claraboia, de José Saramago (2011)
(origem obscura)
substantivo feminino
1. Disfarce ou artifício para enganar. = SOCAPA, SONSICE
adjectivo de dois géneros e substantivo de dois géneros
2. Que ou quem é manhoso. = SONSO
3. Que ou quem é muito apegado ao dinheiro. = AVARENTO, AVARO, SOMÍTICO, SOVINA
à sorrelfa
• Dissimuladamente, sorrateiramente (ex.: saíram da festa à sorrelfa). = À SOCAPA
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Para esta não seria necessário consultar o dicionário, visto que o sentido se vislumbra à légua, mas nunca é demais completarmos o nosso conhecimento. Olhar de sorrelfa é então o aclamado olhar assim de surra ou de esguelha como quem não quer a coisa. Podemos ainda acusar um sovina de ser sorrelfa - agora já tenho mais um adjectivo para chamar aos meus colegas que não acedem a dar um euro para as rifas para ajudar os gatinhos, mas depois gastam trinta paus numa garrafinha de tinto ao almoço. Sorrelfa é ainda, aquele que faz pela calada, o sonso, que mexe os cordelinhos por trás das cortinas. É palavra, então, para usarmos frequentemente no nosso dia-a-dia, uma vez que sorrelfas os há em todo o lado.
Estava no trabalho e chega uma colega com um ar muito triste e miserável... e então conta-me que uma putarrona se anda a meter com o marido dela e não sabe o que fazer. Diz-me ainda que a cabra trabalha perto de nós. Então, a minha singela sugestão foi que lhe passasse com o carro por cima à hora de saída.
E como nos sonhos as coisas são assim, simples e de fácil resolução, à hora de saída ela despede-se com um "até amanhã", e passados alguns minutos ouve-se um grande estrondo na rua, tão grande que até o prédio de 20 andares onde trabalhava no sonho abanou. De imediato desloco-me à janela, mesmo a tempo de ver a puta estendida no chão e o carro da minha colega a fugir a alta velocidade.
E lembro-me de sentir um pico de orgulho. Boa, colega. Lutaste pelo que é teu e ainda seguiste o meu conselho. Desconheço o que aconteceu à saúde da provocadora senhora a partir daí, porque acordei para mais um dia de trabalho em que ninguém morreu. Mas espero que tenha aprendido a não se meter com o homem das outras, mesmo que no mundo dos sonhos. Vaca.
E como nos sonhos as coisas são assim, simples e de fácil resolução, à hora de saída ela despede-se com um "até amanhã", e passados alguns minutos ouve-se um grande estrondo na rua, tão grande que até o prédio de 20 andares onde trabalhava no sonho abanou. De imediato desloco-me à janela, mesmo a tempo de ver a puta estendida no chão e o carro da minha colega a fugir a alta velocidade.
E lembro-me de sentir um pico de orgulho. Boa, colega. Lutaste pelo que é teu e ainda seguiste o meu conselho. Desconheço o que aconteceu à saúde da provocadora senhora a partir daí, porque acordei para mais um dia de trabalho em que ninguém morreu. Mas espero que tenha aprendido a não se meter com o homem das outras, mesmo que no mundo dos sonhos. Vaca.
Fico chocada com estas merdas. Então o Neymar recebe quase 400.000€ para aplaudir os adeptos no final dos jogos? What the fuck?
Já nada no futebol me devia chocar, eu sei, mas isto é demais. O desporto já não é desporto, é apenas um negócio. Quando se recebe para adoptar um comportamento que provém da educação e do desportivismo, que mais não se trata de um agradecimento pelo apoio, e ainda por cima uma quantia exorbitante, o que isto diz do ser humano? Qualquer dia peço 5€ para segurar a porta para alguém passar, ou cobro 1€ por cada "bom dia" que der.
Ainda por cima trata-se de um dos futebolistas mais bem pagos do mundo, a quem o dinheiro não faz falta nenhuma. É ambição, egoísmo e forretice ao mais alto nível. Já não basta passar mais tempo no chão a fazer fita do que a jogar à bola, e ainda leva dinheiro para fingir ser educado.
Se isto for mesmo verdade, e se eu fosse sócia do PSG, partia a porcaria do cartão. Andam as velhas do Você na TV a ganhar apenas 25€ por programa, eu punha-me a pau.
Já nada no futebol me devia chocar, eu sei, mas isto é demais. O desporto já não é desporto, é apenas um negócio. Quando se recebe para adoptar um comportamento que provém da educação e do desportivismo, que mais não se trata de um agradecimento pelo apoio, e ainda por cima uma quantia exorbitante, o que isto diz do ser humano? Qualquer dia peço 5€ para segurar a porta para alguém passar, ou cobro 1€ por cada "bom dia" que der.
Ainda por cima trata-se de um dos futebolistas mais bem pagos do mundo, a quem o dinheiro não faz falta nenhuma. É ambição, egoísmo e forretice ao mais alto nível. Já não basta passar mais tempo no chão a fazer fita do que a jogar à bola, e ainda leva dinheiro para fingir ser educado.
Se isto for mesmo verdade, e se eu fosse sócia do PSG, partia a porcaria do cartão. Andam as velhas do Você na TV a ganhar apenas 25€ por programa, eu punha-me a pau.
Fui ver o Bohemian Rhapsody ao cinema e saí de lá feliz. É claro que sou suspeita - os Queen são uma das minhas bandas favoritas de sempre e o Freddie Mercury é um dos mais importantes heróis que carrego junto ao peito desde criança, graças aos gostos musicais do meu pai.
Nunca seria fácil fazer um filme sobre um tema que todos conhecem, com músicas que já todos ouviram, com uma história de vida que tem sido explorada e mediatizada há décadas. Quem quer que pegasse neste filme, fizesse como fizesse, seria criticado. E é o que tem acontecido. A crítica diz, por exemplo, que este filme representa os Queen versão Disney, ou que o Rami Malek faz playback (a sério, queriam que o homem cantasse como Freddie?), e ainda que há erros temporais na narrativa. Até os há, mas às vezes, quando se realiza um filme sobre várias vidas e se tem de colocar décadas em 2 horas, torna-se necessário. E se Brian May, guitarrista dos Queen e produtor do filme, concordou com a apresentação dos mesmos, acho que o mero espectador poderá dar um pouco o braço a torcer e aceitar.
É claro que o grande trunfo do filme é a música. Ela fala por si, e aliada a um supremo Rami Malek que, vê-se a léguas, se preparou para o papel de Freddie de alma e coração, apresenta-nos as histórias de como as grandes composições surgiam, como as ideias nasceram, como a banda as defendeu, e como Freddie as suava por todos os poros.
Não considero, ao contrário do que a crítica também apontou, que a sexualidade de Freddie tenha sido demasiado explorada, até porque o maior ênfase foi dado à sua relação heterosexual com Mary Austin - o amor da sua vida, como não se cansava de repetir - e que foi muito importante como rampa de lançamento e inspiração de um Freddie a quem faltava confiança e amor fraterno.
Mais do que uma biografia musical, o filme transporta consigo muitos valores, como a amizade profunda que uniu os membros da banda, ou o valor do trabalho e da preserverança que os fez bater o pé tantas vezes a quem os desacreditava. Também a solidão, o desapontamento, a falta de esperança, de visão, as más influências, a voz do dinheiro, têm papel preponderante.
Resta referir que, pela primeira vez em muito tempo, esteve-se bem num cinema cheio. Sem interferências, conversas paralelas, risadas parvas, este era um público realmente interessado e completamente imerso no que estava a ver. Ouviam-se alguns bateres de pés ao ritmo da música, alguns a murmurar as canções baixinho, até algumas fungadelas, mas isto diz muito acerca do filme que é, das horas de entretenimento que apresentou e do engagement que provocou. Podem ir ver, à confiança!
Ontem, enquanto se debatia o Orçamento de Estado no Parlamento, a deputada do PS Isabel Moreira foi apanhada pelo fotógrafo Rafael Marchante (Reuters) a pintar as unhas.
Admito que seja chato assistir a horas de conversa, mas porra, faz parte da função. Eu também me chateio bastante no meu trabalho, e gostava imenso de trazer o ponto cruz para adiantar a coisa, mas se calhar não seria de bom tom. Ainda por cima o meu ordenado, e o dos simples mortais, não se compara ao dela, por isso filha, se tiveres de apanhar a seca e aguentar à bomboca, fá-lo estoicamente. Não andamos a descontar balúrdios para isto, decerto.
Isto não é de todo o exemplo que a classe política tem de dar. Já não bastam todas as benesses de que gozam, e ainda gozam com o povo. Já para não falar do fedor a verniz - se calhar dizem-se tantas baboseiras no Parlamento porque está tudo com moca de acetona.
Admito que seja chato assistir a horas de conversa, mas porra, faz parte da função. Eu também me chateio bastante no meu trabalho, e gostava imenso de trazer o ponto cruz para adiantar a coisa, mas se calhar não seria de bom tom. Ainda por cima o meu ordenado, e o dos simples mortais, não se compara ao dela, por isso filha, se tiveres de apanhar a seca e aguentar à bomboca, fá-lo estoicamente. Não andamos a descontar balúrdios para isto, decerto.
Isto não é de todo o exemplo que a classe política tem de dar. Já não bastam todas as benesses de que gozam, e ainda gozam com o povo. Já para não falar do fedor a verniz - se calhar dizem-se tantas baboseiras no Parlamento porque está tudo com moca de acetona.
Hoje é um daqueles dias em que uma pessoa não sabe se há-de rejubilar por dentro porque duas das bandas favoritas vão parar em terras lusas, ou se há-de baixar as calças e apregoar o pito aos sete ventos, numa tentativa de o alugar temporariamente de modo a compôr a carteira.
Esta tarde, com apenas alguns minutos de diferença, foram feitos dois anúncios que me puseram a suar as virilhas: os Slipknot vão ao VOA dia 4 de julho e os Tool ao Pavilhão Atlântico, no dia 2 desse mesmo mês. Uma semana dos infernos, portanto, que convém aos meninos e meninas apreciadores das sonoridades mais pesadas, em duas bandas carregadinhas de experiência.
Sendo que já tinha hipotecado a alma para comprar o bilhete para Metallica e Ghost, concerto que irá acontecer em maio, resta-me, como referido, alugar as partes podendas ou aguardar um milagre, porque, senhores, estamos ainda em outubro e 2019 já se está a compôr desta maneira. Valha-nos Satanás e o facto de irmos a tempo de pedir ao paizinho ou à avózinha a prenda de Natal...
Esta tarde, com apenas alguns minutos de diferença, foram feitos dois anúncios que me puseram a suar as virilhas: os Slipknot vão ao VOA dia 4 de julho e os Tool ao Pavilhão Atlântico, no dia 2 desse mesmo mês. Uma semana dos infernos, portanto, que convém aos meninos e meninas apreciadores das sonoridades mais pesadas, em duas bandas carregadinhas de experiência.
Sendo que já tinha hipotecado a alma para comprar o bilhete para Metallica e Ghost, concerto que irá acontecer em maio, resta-me, como referido, alugar as partes podendas ou aguardar um milagre, porque, senhores, estamos ainda em outubro e 2019 já se está a compôr desta maneira. Valha-nos Satanás e o facto de irmos a tempo de pedir ao paizinho ou à avózinha a prenda de Natal...
A Shreddies é uma marca que já tinha pijamas, roupa interior e outras peças com uma particularidade - neutralizam os cheiros da peidaria. Agora, todos podemos andar na rua mais descansados, porque chegaram as calças de ganga também preparadas para o efeito.
O segredo está no tecido poroso que contém uma substância que neutraliza o odor, que, aliada ao revestimento de carbono, promete mais liberdade ao cliente, que já não tem de preocupar quando tem de largar aquela bufa que sabe que vai matar mais abelhas que as alterações climáticas.
Eu, que abuso nos hidratos, nas leguminosas, nos tofus e seitans da vida, tenho este problema diariamente. E a vontade de largar o vapor chega sempre nos piores momentos, especialmente quando estou no trabalho e entro num elevador cheio de gente. A maior parte das vezes aperto, aperto, aperto, a ver se o gajo se mantém lá dentro, apesar de ficar com dores de barriga. Noutras ocasiões nada consegue suster a bufa fugitiva e lá tenho de disfaçar, fazer má cara, olhar para o lado, como se dissesse "raios, quem é que se largou?", como se não fosse nadinha comigo.
Poder bufar-me à vontade sem ter de lidar com o constrangimento social é para mim um sonho tornado realidade. Entre amigos, é engraçado estarmos na peidaria e obrigar-mo-nos a cheirar os gases uns dos outros (sim, tenho 13 anos, eu sei), mas em locais mais profissionais ou nos transportes públicos à pinha é chato levarmos com o cheiro a feijão podre da noite passada, por parte de desconhecidos.
É pena que sejam tão caras (cerca de 114€), por isso terei de esperar que a inovação se torne mais barata para poder, finalmente, vazar o meu potente depósito de gás à vontadinha. Ah, e devem ser também eficazes contra o cheiro a bacalhau, que é como quem diz, conas mal lavadas, por isso pode ser uma boa prenda de Natal para aquela pessoa (não tão) especial...
O segredo está no tecido poroso que contém uma substância que neutraliza o odor, que, aliada ao revestimento de carbono, promete mais liberdade ao cliente, que já não tem de preocupar quando tem de largar aquela bufa que sabe que vai matar mais abelhas que as alterações climáticas.
Eu, que abuso nos hidratos, nas leguminosas, nos tofus e seitans da vida, tenho este problema diariamente. E a vontade de largar o vapor chega sempre nos piores momentos, especialmente quando estou no trabalho e entro num elevador cheio de gente. A maior parte das vezes aperto, aperto, aperto, a ver se o gajo se mantém lá dentro, apesar de ficar com dores de barriga. Noutras ocasiões nada consegue suster a bufa fugitiva e lá tenho de disfaçar, fazer má cara, olhar para o lado, como se dissesse "raios, quem é que se largou?", como se não fosse nadinha comigo.
Poder bufar-me à vontade sem ter de lidar com o constrangimento social é para mim um sonho tornado realidade. Entre amigos, é engraçado estarmos na peidaria e obrigar-mo-nos a cheirar os gases uns dos outros (sim, tenho 13 anos, eu sei), mas em locais mais profissionais ou nos transportes públicos à pinha é chato levarmos com o cheiro a feijão podre da noite passada, por parte de desconhecidos.
É pena que sejam tão caras (cerca de 114€), por isso terei de esperar que a inovação se torne mais barata para poder, finalmente, vazar o meu potente depósito de gás à vontadinha. Ah, e devem ser também eficazes contra o cheiro a bacalhau, que é como quem diz, conas mal lavadas, por isso pode ser uma boa prenda de Natal para aquela pessoa (não tão) especial...
Ai que escândalo, que horror, o drama, o fim do mundo! Tudo por causa do comentário do professor Daniel Cardoso no programa Prós & Contras. Para quem ainda não ouviu falar, se é que tal é possível, Daniel disse no programa que obrigar uma criança a beijar os avós é uma violência, uma acção pequena mas que pode desencadear comportamentos impróprios no futuro.
E caiu-lhe tudo em cima - o céu e o inferno, o Carmo e a Trindade, fizeram trinta por uma linha, começando pelo esterco de comunicação social que temos até aos justiceiros das redes sociais, esses seres que têm a opinião certa sobre todos os assuntos da vida e mais alguns, detentores da razão absoluta, guardiões da verdade e da moral.
Quanto ao que foi dito, a minha opinião é igual à dele. As crianças têm de se reger sobre regras, sim, mas devem ser menos rígidas no que toca ao contacto físico com os outros. Eu era uma criança que detestava dar beijinhos e todo o tipo de contacto. Hoje, sou uma adulta que odeia dar beijinhos e todo o tipo de contacto. Et voilá, sou uma pessoa completamente normal (que tem uma relação normal com os avós!). A minha mãe, no início, obrigava-me, mas depois de um episódio em que eu limpei a cara com o meu próprio cuspe e com a ajuda da manga do casaco depois de um beijinho de uma velha, tinha eu uns 4 anos e transbordava de nojo, desistiu, cheia de vergonha. E como ela própria é uma pessoa que não gosta de contacto, caiu na real e achou que não me devia obrigar. E hoje, agradeço-lhe por isso.
Ela considerou mais importante que eu fosse educada, que dissesse bom dia e boa tarde, que segurasse a porta, que dissesse obrigada, que ajudasse em casa, que fosse aplicada nos estudos, que respeitasse os meus amigos e professores, do que ver o meu mal estar quando tinha de cumprimentar, tocando, em alguém. Esta aversão que tinha e continuo a ter é um traço da minha personalidade e que está também relacionada com outra característica minha - não suporto que violem o meu espaço pessoal, mesmo que não me toquem. Mantenho a minha distância, tanto física como mental, e abro mesmo muito pouco espaço para que alguém entre na minha vida. Sou, portanto, feliz na minha solidão. Tenho a certeza de que seria mais amarga se, na minha infância, tivesse passado mais tempo por essa provação de ser obrigada a ter contacto físico com os outros.
Esta é a minha opinião e a minha experiência pessoal, e todos sabem que as opiniões são como os cus. O mais lastimável é quando se transforma um comentário ou opinião num circo tão grande que a coisa extrapola para níveis inacreditáveis. Os haters foram imediatamente investigar Daniel Cardoso, e viram que é praticante do poliamor e que gosta de tirar fotografias eróticas. E pronto, às armas, às armas, foram disparados os canhões e o homem foi atacado por todos os lados e vexado em praça pública, porque, toda a gente sabe, um homem capaz de amar várias mulheres em relações consentidas e que gosta de fotografia artística com menos roupa não tem qualquer legitimidade para falar de comportamentos violentos na infância, mesmo sendo dourado em Ciências da Comunicação e que seja professor de Comunicação e da Sexologia na Universidade Nova. Um taralhoco, portanto!
Neste país, nada se pode meter com os velhos costumes. A instituição "família" é uma coisa muito sagrada, nada a pode perturbar, mesmo que não existam laços que o justifiquem. As pessoas não conseguem aceitar que, sim, há famílias unidas e com laços afectivos muito fortes; mas também há outras em que nem tanto, porque nem sempre o sangue fala mais alto, mas sim as coisas que temos em comum, os caminhos que seguimos juntos, os sentimentos que partilhamos, as amizades que fluem no seio familiar. É por isso que muitas vezes as famílias são as pessoas que vão surgindo para junto de nós vindas de outros meios, os amigos que escolhemos ou que a vida nos escolheu, as pessoas que vamos amando e querendo manter do nosso lado, os laços que não queremos perder. Por isso, obrigar uma criança a beijar um avô, ou um tio, um vizinho, é muitas vezes sinónimo de obrigar a beijar um desconhecido ou alguém por quem a criança não sente nada.
E depois de passear nas redes sociais e ver o bullying que se está a passar com o Daniel e, passando a citar, chamando-o de "evadido do Júlio de Matos", "insano", "desajustado social", "verdadeiro psicopata", "atrasado dos pirulitos", "bastardo", "maluco da moina", "nojento", "lixo humano", "aberração", "lunático", "sem valores", "deficiente mental", "pobre diabo", "besta sadomasoquista" dizendo que "gosta é de apanhar no traseiro", é um "tarado vindo de Marte", que "bate na avó", tem "cara de parvo", que "anda é à procura de fama", devia "ter o instestino grosso dentro da cabeça" (e isto numa pesquisa rápida de 5 minutos), eu é que fico com cara de parva a tentar perceber como é que a comunidade que defende tanto um ataque à moral é capaz de ser tão imoral na maneira como trata outro ser humano.
Mas, enfim, eu já devia estar habituada à dualidade e falta de coerência das pessoas estranhas vindas de Marte. Se cada um se preocupasse com o que se passa dentro das suas próprias casas, isso é que era.
PS: só de olhar para a cara de nojo da senhora Fátima Campos Ferreira dá-me vontade de lhe dar um beijinho na cara, com uma cadeira. Vídeo aqui.
E caiu-lhe tudo em cima - o céu e o inferno, o Carmo e a Trindade, fizeram trinta por uma linha, começando pelo esterco de comunicação social que temos até aos justiceiros das redes sociais, esses seres que têm a opinião certa sobre todos os assuntos da vida e mais alguns, detentores da razão absoluta, guardiões da verdade e da moral.
Quanto ao que foi dito, a minha opinião é igual à dele. As crianças têm de se reger sobre regras, sim, mas devem ser menos rígidas no que toca ao contacto físico com os outros. Eu era uma criança que detestava dar beijinhos e todo o tipo de contacto. Hoje, sou uma adulta que odeia dar beijinhos e todo o tipo de contacto. Et voilá, sou uma pessoa completamente normal (que tem uma relação normal com os avós!). A minha mãe, no início, obrigava-me, mas depois de um episódio em que eu limpei a cara com o meu próprio cuspe e com a ajuda da manga do casaco depois de um beijinho de uma velha, tinha eu uns 4 anos e transbordava de nojo, desistiu, cheia de vergonha. E como ela própria é uma pessoa que não gosta de contacto, caiu na real e achou que não me devia obrigar. E hoje, agradeço-lhe por isso.
Ela considerou mais importante que eu fosse educada, que dissesse bom dia e boa tarde, que segurasse a porta, que dissesse obrigada, que ajudasse em casa, que fosse aplicada nos estudos, que respeitasse os meus amigos e professores, do que ver o meu mal estar quando tinha de cumprimentar, tocando, em alguém. Esta aversão que tinha e continuo a ter é um traço da minha personalidade e que está também relacionada com outra característica minha - não suporto que violem o meu espaço pessoal, mesmo que não me toquem. Mantenho a minha distância, tanto física como mental, e abro mesmo muito pouco espaço para que alguém entre na minha vida. Sou, portanto, feliz na minha solidão. Tenho a certeza de que seria mais amarga se, na minha infância, tivesse passado mais tempo por essa provação de ser obrigada a ter contacto físico com os outros.
Esta é a minha opinião e a minha experiência pessoal, e todos sabem que as opiniões são como os cus. O mais lastimável é quando se transforma um comentário ou opinião num circo tão grande que a coisa extrapola para níveis inacreditáveis. Os haters foram imediatamente investigar Daniel Cardoso, e viram que é praticante do poliamor e que gosta de tirar fotografias eróticas. E pronto, às armas, às armas, foram disparados os canhões e o homem foi atacado por todos os lados e vexado em praça pública, porque, toda a gente sabe, um homem capaz de amar várias mulheres em relações consentidas e que gosta de fotografia artística com menos roupa não tem qualquer legitimidade para falar de comportamentos violentos na infância, mesmo sendo dourado em Ciências da Comunicação e que seja professor de Comunicação e da Sexologia na Universidade Nova. Um taralhoco, portanto!
Neste país, nada se pode meter com os velhos costumes. A instituição "família" é uma coisa muito sagrada, nada a pode perturbar, mesmo que não existam laços que o justifiquem. As pessoas não conseguem aceitar que, sim, há famílias unidas e com laços afectivos muito fortes; mas também há outras em que nem tanto, porque nem sempre o sangue fala mais alto, mas sim as coisas que temos em comum, os caminhos que seguimos juntos, os sentimentos que partilhamos, as amizades que fluem no seio familiar. É por isso que muitas vezes as famílias são as pessoas que vão surgindo para junto de nós vindas de outros meios, os amigos que escolhemos ou que a vida nos escolheu, as pessoas que vamos amando e querendo manter do nosso lado, os laços que não queremos perder. Por isso, obrigar uma criança a beijar um avô, ou um tio, um vizinho, é muitas vezes sinónimo de obrigar a beijar um desconhecido ou alguém por quem a criança não sente nada.
E depois de passear nas redes sociais e ver o bullying que se está a passar com o Daniel e, passando a citar, chamando-o de "evadido do Júlio de Matos", "insano", "desajustado social", "verdadeiro psicopata", "atrasado dos pirulitos", "bastardo", "maluco da moina", "nojento", "lixo humano", "aberração", "lunático", "sem valores", "deficiente mental", "pobre diabo", "besta sadomasoquista" dizendo que "gosta é de apanhar no traseiro", é um "tarado vindo de Marte", que "bate na avó", tem "cara de parvo", que "anda é à procura de fama", devia "ter o instestino grosso dentro da cabeça" (e isto numa pesquisa rápida de 5 minutos), eu é que fico com cara de parva a tentar perceber como é que a comunidade que defende tanto um ataque à moral é capaz de ser tão imoral na maneira como trata outro ser humano.
Mas, enfim, eu já devia estar habituada à dualidade e falta de coerência das pessoas estranhas vindas de Marte. Se cada um se preocupasse com o que se passa dentro das suas próprias casas, isso é que era.
PS: só de olhar para a cara de nojo da senhora Fátima Campos Ferreira dá-me vontade de lhe dar um beijinho na cara, com uma cadeira. Vídeo aqui.
Eight Grade segue a vida de Kayla, uma adolescente de 13 anos que está a finalizar o oitavo ano. Ela vive sozinha com o pai e têm uma relação estranha - apesar de só se terem um ao outro, Kayla não confia totalmente nele para expressar o que sente, talvez porque nem ela mesma sabe interpretar muito bem. Como qualquer pessoa que se lembre de ter passado pela adolescência, Kayla carrega consigo os sentimentos típicos da altura e, como tal, é cheia de inseguranças, dúvidas, com uma vontade enorme de se integrar mas sem saber como. Olha com inveja para as raparigas da sua idade que já têm namorados, melhores amigas, que são requisitadas para as festas, que estão sempre bem arranjadas, têm grande estilo, cabelos bonitos, enquanto a sua vida é desprovida de tudo isto.
Com este background é difícil acreditar que Kayla tem um canal no Youtube onde, imagine-se, dá conselhos a outros da sua idade, sobre integração, ser fixe, parecer bem, ser confiante. É claro que o seu canal não é um grande sucesso - ou melhor, não é nenhum - mas não deixa de ser cómico ouvi-la dar conselhos sobre tudo o que a incomoda e depois vê-la fazer exactamente o contrário.
O Youtube é apenas uma das redes sociais abordadas e, tratando-se de um filme sobre uma adolescente, todas elas acabam por espreitar, relevando ainda mais a importância das mesmas na vida dos jovens de hoje. Não é uma novidade, mas para quem, como eu, cresceu apenas com o mIRC e o Messenger, não deixa de ser chocante como as vidas dos adolescentes são completamente tomadas de assalto por um número crescente e chocante de redes. E torna-se difícil, para uma jovem insegura, tímida, que tem dificuldade em encontrar valor em si, estar constantemente a ser bombardeada pela aparente alegria, beleza e vida social dos outros, não podendo deixar de se comparar e, como tal, ser uma fonte de desconforto. Ao mesmo tempo, os adultos, totalmente fora destes aquários, não sabem lidar com isto.
Trata-se de um filme honesto que não pretende pintar a adolescência nem de uma coisa terrível, nem de algo maravilhoso, mas simplesmente uma coisa que acontece e, como tal, tem um carácter quase documental. Apesar de não ser uma comédia pura (apesar de ser realizada por um comediante e ter muito de auto-biográfico), pois puxa ao melodramatismo, não conseguimos não rir em algumas situações, não por serem bizarras, mas por nos surpreenderem na sua simplicidade e honestidade acutilantes.
É um filme para todos os públicos e que acaba por surpreender por ser tão bom na sua falta de complexidade aparente.
"Uma abstenção razoavelmente alta, ou até mesmo acima da máxima verificada nas eleições anteriores, desde que não exagerasse, significaria que teríamos regressado à normalidade, à conhecida rotina dos eleitores que nunca acreditaram na utilidade do voto e primam pela contumácia na ausência (...)"
in Ensaio Sobre a Lucidez, de José Saramago (2004)
con·tu·má·ci·a
(latim contumacia, -ae, perseverança, arrogância, inflexibilidade, teimosia)
substantivo feminino
1. Grande teimosia ou obstinação.
2. [Jurídico, Jurisprudência] Acto ou efeito de não comparecer em juízo.
3. [Jurídico, Jurisprudência] Desobediência a uma ordem judicial.
Contumácia, palavra cara e rara para designar um fenómeno tão corrente. É até raro o dia em que não nos deparamos com alguém perito na contumácia, seja aquela pessoa que não nos deixa sair do comboio porque tem toda a pressa em entrar; seja o empregado do café que nem-ai-nem-ui, nem bom dia nem boa tarde; seja aquele filho da sua querida mãezinha que nos viu perfeitamente na passadeira mas decidiu não parar; a arrogância e inflexidade crescem conforme vai crescendo o mundo, que é como quem diz, quantas mais pessoas há, mais contumácia, desde as suas formas mais imberbes, como a simples teimosa, até ao ponto em que se deterioram as relações humanas.
Não me recordo da razão, mas neste sonho fui convidada para fazer parte de uma expedição com a duração de um mês ao espaço, ao serviço da NASA. Extasiada, aceitei, e integrei um grupo de pessoas que estavam tão entusiasmadas quanto eu. Durante umas semanas, preparámo-nos para a viagem, com aqueles exercícios estranhos para nos habituarmos à falta de gravidade e outras coisas mais que se observam nos filmes do género.
Deixei a minha vida em suspenso durante este período, despedi-me temporariamente dos meus gatos e abracei a expedição com tudo o que tinha. Acontece que, na manhã em que seguíamos para esta aventura espacial, acordei com um dente da frente a abanar e, quando encostei o dedo, o dente simplesmente caiu. E caiu-me tudo ao chão.
Pensei que todo o mundo ia estar de olhos postos em mim e nos meus companheiros de viagem, e que mal teria eu feito para me cair um dente, logo agora, e logo o da frente. Chorei, berrei, já queria desistir da expedição, mas os meus colegas lá me convenceram a não desperdiçar a oportunidade por causa de um aborrecimento de pouca monta.
Lá me recompus, mas aproximava-se um momento temido - o da fotografia de grupo. Quando o fotógrafo viu que não sorria e que tinha um ar macambúzio, fez umas macacadas para me arrancar um sorriso, e conseguiu. E a última coisa que vi antes de entrar na aeronave foi essa fotografia de um grupo espectacular e composto, mas o que saltava mais à vista era a baliza na minha boca, um buraco negro tão grande que dava para estacionar o foguetão.
E aí está, o meu sonho que mistura o Armageddon com um filme de adolescentes.
Deixei a minha vida em suspenso durante este período, despedi-me temporariamente dos meus gatos e abracei a expedição com tudo o que tinha. Acontece que, na manhã em que seguíamos para esta aventura espacial, acordei com um dente da frente a abanar e, quando encostei o dedo, o dente simplesmente caiu. E caiu-me tudo ao chão.
Pensei que todo o mundo ia estar de olhos postos em mim e nos meus companheiros de viagem, e que mal teria eu feito para me cair um dente, logo agora, e logo o da frente. Chorei, berrei, já queria desistir da expedição, mas os meus colegas lá me convenceram a não desperdiçar a oportunidade por causa de um aborrecimento de pouca monta.
Lá me recompus, mas aproximava-se um momento temido - o da fotografia de grupo. Quando o fotógrafo viu que não sorria e que tinha um ar macambúzio, fez umas macacadas para me arrancar um sorriso, e conseguiu. E a última coisa que vi antes de entrar na aeronave foi essa fotografia de um grupo espectacular e composto, mas o que saltava mais à vista era a baliza na minha boca, um buraco negro tão grande que dava para estacionar o foguetão.
E aí está, o meu sonho que mistura o Armageddon com um filme de adolescentes.
Não fazia sentido nenhum, não existia justificação plausível. Os "artistas" (muuuito entre aspas) tauromáquicos eram isentos de IVA, e desde que o PAN se sentou no Parlamento lutava para acabar com esta mama. Finalmente aconteceu. Apoie-se ou não as touradas, é uma questão de justiça social, e sinto um orgulho muito grande deste partido que nunca se tem calado.
No Orçamento de Estado de 2019 esta alteração já vai estar prevista. Os betos mamões que se cuidem, porque isto não vai ficar por aqui. É o povo quem mais ordena, nunca se esqueçam...
No Orçamento de Estado de 2019 esta alteração já vai estar prevista. Os betos mamões que se cuidem, porque isto não vai ficar por aqui. É o povo quem mais ordena, nunca se esqueçam...
Fui ver este filme ao cinema no passado fim-de-semana e a experiência começou logo bem, com uma sala quase vazia (e sem putos barulhentos!). Conforme o filme avançou a experiência correu ainda melhor, porque é de uma inovação brutal, com uma realização nunca antes vista, encaixando-se que nem uma luva na designação do melhor storytelling dos novos tempos.
David Kim (John Cho) é um pai viúvo (a esposa morreu de cancro há alguns anos) e cria sozinho a filha adolescente. Um dia, esta desaparece sem deixar rasto. À medida que o tempo passa, David vai ficando mais e mais preocupado - o que poderia ser considerado ao início como uma saída tardia ou um acto rebelde vai deixando de fazer sentido.
Quando a polícia inicia a investigação e nada parece progredir, David começa a procurar pistas na pegada digital da filha - armado do portátil dela, vai apanhando migalhas dos seus últimos dias, através do seu comportamento nas redes sociais e das pessoas com quem nelas interage, acção que também lhe dá a conhecer um outro lado dela que não sabia existir.
A inovação no meio disto tudo é a forma como a história é contada. Tudo, mas mesmo tudo, do início ao fim, é contado apenas e só através dos meios digitais disponíveis e que usamos todos os dias. Não existem câmaras na sua acepção propriamente dita - vemos a navegação na internet, os sites noticiosos, imagens de câmaras de segurança, chamadas de vídeo, vídeos do Youtube, os perfis das redes sociais, e por aí fora. Ora isto não é novo, mas é a primeira vez que vejo isto resultar - e não devo ter sido a única, visto que o filme está a obter críticas estrondosas.
Se uma pessoa como eu que é tão pouco apologista destas modernices gostou, acredito que mais irão gostar. Outro ponto positivo é que os bois são tratados pelos nomes - o Facebook é o Facebook, o Youtube é o Youtube, etc, não há cá disfarces para não ferir susceptibilidades.
É um verdadeiro thriller dos tempos modernos, sem tempos mortos, que nos mantém agarrados, com uma realização inesperada, e ainda por cima com um John Choo abismal. Altamente recomendado, mesmo aos mais cépticos!
Atentem no título desta 'notícia':
Modric ganha 10 milhões por época mas tem um telemóvel com 5 anos
Em primeiro lugar, isto é 'notícia' digna de pasquim manhoso, cor-de-rosa, ou fushia, pouco ou nada relacionada com desporto, suposto principal ganha-pão da publicação. É, como se diz nesta era, um caça-likes, um isco para cliques, ou clickbait, vazio de conteúdo, importado de outros pasquins do género, nem levando com ele o mérito da originalidade.
Em segundo lugar, e grave, a meu ver, é o Record se armar em júri sobre como cada um deve gastar o seu dinheiro, perpetuando a ideia de que quem ganha bom dinheiro deve ser bom gastador, extravagante, pagar pela última moda, pelos últimos equipamentos, pelos melhores carros, e barcos, e casas, para assim poderem fazer mais 'reportagens' da tanga com fotos desfocadas dos famosos a usufruir de tudo isto, como "Ronaldo em festa no luxuoso barco", "Ronaldo tem o SUV mais potente do mundo" e por aí fora.
É triste ter de falar sobre estas coisas para ter audiência (o que também diz muito sobre o público, claro), mas apontar que Modric tem um telemóvel com 5 anos e que seria de esperar que acompanhasse as últimas tendências por ter o ordenado que tem é só desnecessário. Quem me dera que os jovens de hoje tivessem o mesmo telemóvel durante 5 anos!
Que isto pelo menos sirva, numa sociedade em que tudo é descartável, onde facilmente se abandona tudo por modelos mais recentes só-porque-sim, para mostrar que uma pessoa que tem mais dinheiro do que qualquer um dos que esteja a ler este blog consegue sobreviver com um iPhone 5S (valha-nos Deus!).
Num mundo perfeito, uma pessoa usaria o que tem até se estragar ou até se tornar obsoleto para as suas necessidades. Quando o contrário é 'notícia', temo pela sanidade do mundo.
Modric ganha 10 milhões por época mas tem um telemóvel com 5 anos
Em primeiro lugar, isto é 'notícia' digna de pasquim manhoso, cor-de-rosa, ou fushia, pouco ou nada relacionada com desporto, suposto principal ganha-pão da publicação. É, como se diz nesta era, um caça-likes, um isco para cliques, ou clickbait, vazio de conteúdo, importado de outros pasquins do género, nem levando com ele o mérito da originalidade.
Em segundo lugar, e grave, a meu ver, é o Record se armar em júri sobre como cada um deve gastar o seu dinheiro, perpetuando a ideia de que quem ganha bom dinheiro deve ser bom gastador, extravagante, pagar pela última moda, pelos últimos equipamentos, pelos melhores carros, e barcos, e casas, para assim poderem fazer mais 'reportagens' da tanga com fotos desfocadas dos famosos a usufruir de tudo isto, como "Ronaldo em festa no luxuoso barco", "Ronaldo tem o SUV mais potente do mundo" e por aí fora.
É triste ter de falar sobre estas coisas para ter audiência (o que também diz muito sobre o público, claro), mas apontar que Modric tem um telemóvel com 5 anos e que seria de esperar que acompanhasse as últimas tendências por ter o ordenado que tem é só desnecessário. Quem me dera que os jovens de hoje tivessem o mesmo telemóvel durante 5 anos!
Que isto pelo menos sirva, numa sociedade em que tudo é descartável, onde facilmente se abandona tudo por modelos mais recentes só-porque-sim, para mostrar que uma pessoa que tem mais dinheiro do que qualquer um dos que esteja a ler este blog consegue sobreviver com um iPhone 5S (valha-nos Deus!).
Num mundo perfeito, uma pessoa usaria o que tem até se estragar ou até se tornar obsoleto para as suas necessidades. Quando o contrário é 'notícia', temo pela sanidade do mundo.
Feitos por encomenda para uma colega que queria oferecer uma poia a alguém e não sabia como... :P
São bordados em tela plástica e têm íman atrás para poderem viver coladinhos a um frigorífico ou a outra superfície metálica. Sejam felizes na nova casa, fofinhos!
São bordados em tela plástica e têm íman atrás para poderem viver coladinhos a um frigorífico ou a outra superfície metálica. Sejam felizes na nova casa, fofinhos!
Os filmes do Predador, tanto o primeiro como o segundo, são grandes clássicos do cinema que, com os parcos recursos visuais existentes nos anos 80 e início de 90 (comparativamente a hoje) conseguiram criar uma criatura mítica que viria a pertencer ao imaginário da cultura pop até hoje, e por cá ficará, provavelmente, após a morte de muitos de nós. São filmes que conseguiram criar um tenebroso suspense a partir da simplicidade a vários níveis, como na banda sonora ou no argumento.
Este The Predator que está agora nos cinemas é uma anedota mais ou menos ao nível do Alien VS Predator, um filme totalmente dispensável. Não quero dizer que foi uma total perda de tempo tê-lo visto no cinema - não é totalmente desprovido de sentido - mas está lá perto. Acredito que a juventude-pipoca vá apreciar o filme, pois tem o barulho, os efeitos, as explosões, perseguições, muito bem vistos pela geração. Mas aqueles que, como eu, cresceram com o verdadeiro Predador e que, ainda por cima, reviram os dois primeiros filmes antes deste, vão sair desiludidos.
A trama sem sentido enfia uns veteranos de guerra, um miúdo autista, uma cientista e até, pasme-se, cães predadores, no mesmo saco, agita, até sair uma mão cheia de nada. Há várias tentativas frustradas para fazer humor e situações que geram humor sem querer - como quando alguns personagens andam de pé, na boa, em cima de uma nave espacial em movimento - wow!
Foi um dos piores filmes que vi este ano no cinema mas não se deixem influenciar pela minha negatividade - vão ver com os vossos próprios olhos. Eu é que, pronto, não tenho paciência para estas coisas, mas pode ser que até apreciem. Não é pior do que, por exemplo, os últimos Velocidade Furiosa...
Até tinha alguma expectativa porque o realizador é um dos actores do primeiro filme. Enfim, devia saber melhor. Falta só mencionar a falta de talento de todos os actores. É triste quando um dos menos maus é o 50 Cent. Meu belo Arnold, volta para a selva, estás perdoado.
"A segunda tem que ver com essa tua cabecinha e com a viagem que ainda mal começou, se nesse bestunto ainda tens uns restos de ideias aproveitáveis, apreciaria saber se é de tua vontade que fiquemos aqui eternamente, até à consumação dos séculos"
in A Viagem do Elefante, de José Saramago (2008)
bes·tun·to
(besta + -unto)
substantivo masculino
1. [Informal, Depreciativo] Pessoa de pouco talento ou de pouca inteligência.
2. [Informal] Cabeça. = CACHIMÓNIA
Adoro, adoro, adoro. É tão bom descobrir uma palavra para insultar os outros sem que, muito provavelmente, eles se apercebam. Apesar de provir de "besta", bestunto é diferente o suficiente para dizermos a alguém que tem o bestunto cheio de merda e escapar imune enquanto eles procuram o significado. Obrigada, Saramago. Tanto bestundo que vou insultar.
"Como se sente velho, como envelheceu desde que se retirou. E que aborrecimento não beber. O mundo, em si mesmo, é muitas vezes entediante e carece de verdadeira emoção. Embora seja bom não esquecer que uma pessoa sábia é aquela que torna monótona a existência, pois, então, cada pequeno incidente, se souber lê-lo literalmente, tem para ela carácter de maravilha."
in Dublinesca, de Enrique Vila-Matas (2010)
Muitos bebem para escapar, tanto aos problemas, como à vida plana que carece de emoção. Combatendo o tédio, quem bebe dá uns piparotes à vida, confere um abalo embriagado ao caminho sempre a direito que estão fartos de percorrer. Mas, concordando com as palavras em cima, que na sábia abstenção discorreram, feliz é de quem tem essa existência monótona. Assim, tudo o que fuja nem que seja um milímetro à normalidade é motivo de espanto, um ponto colorido na estrada cinzenta dos dias. Quem não tem entretém constante torna-se feliz nas pequenas coisas que os demais pouco são capazes de apreciar.
Ontem esperava pelo comboio enquanto lia o meu livrinho, até que fui parcialmente distraída por uma conversa que o miúdo ao meu lado, talvez com 17 ou 18 anos, estava a ter ao telemóvel:
"Puto... não me faças isso (...) Não vou ficar com o puto, mano. (...) Se eu ficar com o puto, vais ter de me pagar. (...) Tou a falar a sério, vais pagar e vai sair caro. Tu é que a violaste, tu é que tiveste a diversão, e eu é que me fodo?"
Pensei imediatamente que aquilo devia ser para o programa "E Se Fosse Consigo?" e que a minha reacção deveria estar a ser filmada. Das duas uma - ou vão passar a minha imagem a continuar a ler tranquilamente "O Homem nas Sombras", enquanto em casa vão assistir e abanar a cabeça com desapontamento perante a minha inactividade; ou anda por aí uma miúda prenha dorida cujo objecto do útero está a ser empurrado para lá e para cá. Eu - 1, Empatia - 0.
"Puto... não me faças isso (...) Não vou ficar com o puto, mano. (...) Se eu ficar com o puto, vais ter de me pagar. (...) Tou a falar a sério, vais pagar e vai sair caro. Tu é que a violaste, tu é que tiveste a diversão, e eu é que me fodo?"
Pensei imediatamente que aquilo devia ser para o programa "E Se Fosse Consigo?" e que a minha reacção deveria estar a ser filmada. Das duas uma - ou vão passar a minha imagem a continuar a ler tranquilamente "O Homem nas Sombras", enquanto em casa vão assistir e abanar a cabeça com desapontamento perante a minha inactividade; ou anda por aí uma miúda prenha dorida cujo objecto do útero está a ser empurrado para lá e para cá. Eu - 1, Empatia - 0.
Eu adoro o Stephen King. Amo-o de paixão. Quando soube que ia ser lançada uma série baseada no universo das suas histórias, fiquei toda eu com borboletas na barriga. O facto de ter Stephen King e J. J. Abrams como produtores executivos aguçou-me ainda mais o apetite. A ideia da série era um argumento totalmente novo, mas tendo vários elementos dos escritos de King.
Comecei a ver, e foi para mim um delírio começar a identificar os elementos ligados a Stephen King aqui e ali - um dos locais da acção é a prisão de Shawshank (The Shawshank Redemption); uma das actrizes, Sissy Spacek, foi a Carrie no filme original; no genérico aparece referência ao Misery; um dos protagonistas é Bill Skarsgård, que foi o palhaço do It na versão do ano passado; há uma personagem - Jackie Torrance -, sobrinha de Jack Torrance (The Shining). E mais não digo, porque fazer estas descobertas foi o maior prazer que tive ao ver a série e acredito que outros fãs irão sentir o mesmo.
Em Castle Rock, um homem aparece misteriosamente numa zona vazia da prisão de Shawshank - não há qualquer registo dele, não é um prisioneiro e ninguém o conhece na comunidade. Ele não profere uma palavra e torna-se impossível identificá-lo, ao mesmo tempo que os responsáveis da prisão lutam para que este súbito aparecimento não seja mencionado nos media. Depois de alguns dias, finalmente o estranho profere algumas palavras - um nome, na verdade - Henry Deaver, um advogado que outrora viveu na cidade.
Chamado à prisão de emergência, Henry depara-se com um cenário surreal - vai representar um desconhecido que não falou nada para além do seu nome, numa cidade com um grande historial de desaparecimentos, assassíninos, desastres, eventos misteriosos sem explicação, e de onde saiu para fugir ao seu passado envolto em mistério. E, à volta do desconhecido que já é considerado o próprio diabo, a história vai-se desenrolando.
Devo dizer que adorei os primeiros episódios - parecia algo realmente diferente, uma história medonha, onde os elementos do Stephen King se misturavam perfeitamente. Com uma boa fotografia, óptimos actores, uma aura negra, tinha tudo para ser uma série que iria adorar. Mas, para mim, tudo descambou a partir, mais ou menos, do 6º episódio. Uma história que estava a ser linear, apesar de estranha, por vezes, tornou-se uma confusão quando começou a misturar o espaço temporal e colocou o espectador numa rambóia de emoções. Pensava que estava a perceber tudo o que estava a acontecer, e afinal não. E fiquei assim até ao fim, na dúvida, obrigando-me a ir pesquisar sobre o que tinha visto, sem compreender.
Tornou-se, enfim, demasiado rebuscada, e culpo o J. J. Abrams por isso. Parece coisa dele, tal como acabou por fazer com o Lost. A temporada terminou com um apontamento que revela qual será o cenário da próxima temporada e fiquei entusiasmada com a ideia visto tratar-se da minha obra favorita do Stephen King. No entanto, não sei se irá acontecer. Neste momento temo que cancelem a série. Veremos.
Ia a um concerto dos Bizarra Locomotiva em Leiria (e fui mesmo, há algumas semanas) e quis jantar pizza. Parecia que na cidade desconheciam o conceito de pizza porque corremos aquilo tudo quase sem sucesso. Finalmente, encontrámos um boteco escondido que vendia.
A lista de ingredientes que podia adicionar à pizza era extensa mas miserável. Eu só queria uns simples pimentos e espinafres, mas não havia. Só coisas estranhas como mão de vaca, costeletas de carneiro ou focinho de porco. Comecei a panicar e a explicar que não comia carne, se não podiam adicionar umas coisas poucas - até ficava satisfeita com umas míseras rodelas de cebola.
Para além de recusarem, começaram a rir na minha cara e a dizer que ali era assim que funcionava, não havia cá comidas de passarinho. Ou se comia uma pizza com uma febra em cima, no mínimo, ou nem ia para o forno. Foi a tristeza total.
Não me lembro de mais nada. Acordei (ainda no sonho) e estava na casa dos meus pais na terrinha, na minha cama de adolescente, tapada até ao pescoço, como uma doente e, de facto, assim me sentia. Constatei que não tinha recordações da noite anterior, inclusivé do suposto concerto.
Levantei-me a custo e encontrei o meu namorado no sofá a ver as notícias, que com pouca paciência me explicou que tive um colapso nervoso na pizzaria, que comecei a espumar da boca, a dizer loucuras e a atirar-me para o chão. Estava zangado comigo por, por causa de mim e das minhas cenas em público, teve de faltar ao concerto e levar-me para casa dos meus pais. "Eles que te aturem as manias", disse, antes de ir embora.
Triste por ter perdido a oportunidade de comer pizza e de ir ao concerto, animei-me com a perspectiva da comidinha da mãe que viria para a mesa daí a pouco. Mas como até os sonhos nos fodem, levei com o cheiro e com a visão de detestáveis moelas, e com o sorriso cínico da minha mãe antes de proferir: "não gostas, vai comer fora". E acordei. Com vontade de comer pizza.
A lista de ingredientes que podia adicionar à pizza era extensa mas miserável. Eu só queria uns simples pimentos e espinafres, mas não havia. Só coisas estranhas como mão de vaca, costeletas de carneiro ou focinho de porco. Comecei a panicar e a explicar que não comia carne, se não podiam adicionar umas coisas poucas - até ficava satisfeita com umas míseras rodelas de cebola.
Para além de recusarem, começaram a rir na minha cara e a dizer que ali era assim que funcionava, não havia cá comidas de passarinho. Ou se comia uma pizza com uma febra em cima, no mínimo, ou nem ia para o forno. Foi a tristeza total.
Não me lembro de mais nada. Acordei (ainda no sonho) e estava na casa dos meus pais na terrinha, na minha cama de adolescente, tapada até ao pescoço, como uma doente e, de facto, assim me sentia. Constatei que não tinha recordações da noite anterior, inclusivé do suposto concerto.
Levantei-me a custo e encontrei o meu namorado no sofá a ver as notícias, que com pouca paciência me explicou que tive um colapso nervoso na pizzaria, que comecei a espumar da boca, a dizer loucuras e a atirar-me para o chão. Estava zangado comigo por, por causa de mim e das minhas cenas em público, teve de faltar ao concerto e levar-me para casa dos meus pais. "Eles que te aturem as manias", disse, antes de ir embora.
Triste por ter perdido a oportunidade de comer pizza e de ir ao concerto, animei-me com a perspectiva da comidinha da mãe que viria para a mesa daí a pouco. Mas como até os sonhos nos fodem, levei com o cheiro e com a visão de detestáveis moelas, e com o sorriso cínico da minha mãe antes de proferir: "não gostas, vai comer fora". E acordei. Com vontade de comer pizza.
António Variações foi um visionário, um sábio, nascido numa era que não o compreendeu mas que carrega e carregará consigo, para sempre, palavras mágicas que, mais tarde ou mais cedo, acabamos por senti-las como nossas.
"Estou além" é uma canção muito inteligente, alegre nos acordes e algo sombria na mensagem, que nos fala da eterna insatisfação do ser humano. Há inevitavelmente momentos de maior confusão interna em que esta canção nos assenta que nem uma luva e, enfim, temos a pressa e a ansiedade de chegar onde só estamos bem onde não estamos. A lado nenhum.
Mais dia menos dia, um dia acordamos desejosos que o dia acabe. Sabemos de antemão que nada de bom virá de mais um nascer do sol. Sabemos que serão apenas 24 horas pesando sobre os ombros, mais uma ruga, uma rotina, um cabelo branco, mais um dia sem significado. Queremos sair desta linha monótona, mas não sabemos como. Queremos ir para outro lugar, mas não sabemos qual.
Questionamos o que estamos aqui a fazer. Pesamos os "ses" da vida e onde poderíamos estar se tivessemos ido para a esquerda em vez de para a direita. Os pensamentos vão recuando no tempo, e questionamos até as escolhas que fizemos na adolescência e infância. E se tivesse estudado outra coisa? E se tivesse emigrado? E se me tivesse tornado uma eremita vivendo isolada num monte alentejano? Todas as respostas possíveis embrulham-se num novelo que, embora confuso e sem conseguirmos descobrir o início e o fim da meada, nos parecem melhores do que a vida que levamos.
Tentamos descortinar onde aconteceu o ponto sem retorno que definou a vida que levamos hoje. Tudo parece errado. Se existiram más decisões, sentimos que as tomámos todas. E apesar dos clichés que nos atiram, que nunca é tarde para mudar, para ir, para conhecer, falta-nos a energia e a coragem para refutar um presente construído por nós mas que, a cada dia, nos vai passando ao lado.
Um dia destes, ouvindo o Variações, confirmei para mim mesma que as dúvidas nos assaltaram desde o início dos tempos e vão continuar a assombrar a nossa existência até que o último humano desapareça da Terra. Nascemos e morremos sozinhos, mas estamos unidos nesta incessante busca por um lugar de pertença. Alguns fazem esta travessia no deserto com a animação típica dos optimistas; outros, têm sempre qualquer coisa atravessada na garganta que não sai nem a ferros, acumulando frustrações.
A vida é um cemitério de expectativas.
"Estou além" é uma canção muito inteligente, alegre nos acordes e algo sombria na mensagem, que nos fala da eterna insatisfação do ser humano. Há inevitavelmente momentos de maior confusão interna em que esta canção nos assenta que nem uma luva e, enfim, temos a pressa e a ansiedade de chegar onde só estamos bem onde não estamos. A lado nenhum.
Mais dia menos dia, um dia acordamos desejosos que o dia acabe. Sabemos de antemão que nada de bom virá de mais um nascer do sol. Sabemos que serão apenas 24 horas pesando sobre os ombros, mais uma ruga, uma rotina, um cabelo branco, mais um dia sem significado. Queremos sair desta linha monótona, mas não sabemos como. Queremos ir para outro lugar, mas não sabemos qual.
Questionamos o que estamos aqui a fazer. Pesamos os "ses" da vida e onde poderíamos estar se tivessemos ido para a esquerda em vez de para a direita. Os pensamentos vão recuando no tempo, e questionamos até as escolhas que fizemos na adolescência e infância. E se tivesse estudado outra coisa? E se tivesse emigrado? E se me tivesse tornado uma eremita vivendo isolada num monte alentejano? Todas as respostas possíveis embrulham-se num novelo que, embora confuso e sem conseguirmos descobrir o início e o fim da meada, nos parecem melhores do que a vida que levamos.
Tentamos descortinar onde aconteceu o ponto sem retorno que definou a vida que levamos hoje. Tudo parece errado. Se existiram más decisões, sentimos que as tomámos todas. E apesar dos clichés que nos atiram, que nunca é tarde para mudar, para ir, para conhecer, falta-nos a energia e a coragem para refutar um presente construído por nós mas que, a cada dia, nos vai passando ao lado.
Um dia destes, ouvindo o Variações, confirmei para mim mesma que as dúvidas nos assaltaram desde o início dos tempos e vão continuar a assombrar a nossa existência até que o último humano desapareça da Terra. Nascemos e morremos sozinhos, mas estamos unidos nesta incessante busca por um lugar de pertença. Alguns fazem esta travessia no deserto com a animação típica dos optimistas; outros, têm sempre qualquer coisa atravessada na garganta que não sai nem a ferros, acumulando frustrações.
A vida é um cemitério de expectativas.
Camille Preaker, interpretada por Amy Adams, é uma repórter que é enviada à sua terra natal, onde não regressa há muitos anos, para cobrir a história de um assassinato. O seu editor, que é também seu amigo, acha que a proximidade de Camille àquelas pessoas e à pequena cidade de Wind Gap pode ser a opção certa, não só para dar luz ao mistério mas também porque acha que lhe vai fazer bem conviver com os demónios do passado.
E são muitos. Vamos conhecendo cada um deles, sendo talvez o maior a sua mãe. Patricia Clarkson dá corpo a essa mulher estranha, hipocondríaca, que acha ter o mundo a girar à sua volta, e que vive num drama constante. Vamos tendo alguns flashbacks que nos ajudam a perceber todos os males que afligiram Camille durante a sua infância e adolescência, e vamos compreendendo porque é que é tão difícil para ela regressar a casa e enfrentar aquelas pessoas e as recordações.
Em Wind Gap vive não só a mãe, mas também o padrasto e a meia-irmã de Camille. Esta, com 13 anos e dona de uma beleza invejável, tem em si um pouco da rebeldia de Camille mas também algo de sinistro, certamente herdado da mãe. É a oportunidade para as duas se conhecerem melhor, e vamos vendo interacções muito interessantes entre as duas. Antigas amizades, amores, desconfianças e vergonhas vão sendo também desenterradas.
Há sempre mais camadas por descobrir - as coisas são sempre mais profundas do que aquilo que parecem. E isto é válido tanto para a vida de Camille e da sua estranha família, mas também em relação à onda de crimes que insiste em tornar-se cada vez maior, e envolta em mais mistério. Camille não vai olhar a meios para chegar ao fundo da questão, dando origem ainda a mais animosidade com os habitantes de Wind Gap, onde já se sente uma estranha, e da sua própria família.
Esta é certamente uma das séries do ano. Tem uma realização, fotografia e edição do outro mundo, aliadas a interpretações fora de série. Eu nem simpatizava muito com a Amy Adams, mas Sharp Objects fez-me mudar completamente a razoável opinião que tinha sobre ela. Talvez porque é um papel diferente de tudo o que fez até agora. Aqui, ela é vulnerável, problemática, viciada, negligenciada, incompreendida, e não a mulher bonita e forte que normalmente vemos no grande ecrã. Por mim, o Emmy pode ser já entregue.
Há também que destacar Patricia Clarkson no papel da mãe. Está tão perfeita que nos desperta as piores sensações do mundo, como é o pretendido. Desde raiva, nojo, medo, desconfiança, aquela mulher loira com algo de angelical consegue passar-nos a completa imagem oposta das aparências que quer passar para a comunidade.
Tenho também de mencionar os fabulosos flashbacks. O passado e o presente, por vezes, enrolam-se, conforme Camille vai recordando certas pessoas e situações, e essas viagens ao passado são supremas. O trabalho de edição é fantástico, as passagens entre as duas épocas são sublimes e só mesmo vendo para perceber. O papel de Sophia Lillis como Camille adolescente também contribui em muito para esse sucesso.
Daqui a uns tempos (não agora, que tenho a história demasiado presente), quero ler o livro de Gillian Flynn com o mesmo nome, no qual é baseado esta série. Se tiverem de escolher uma série para ver nos próximos tempos esta é altamente recomendada. Tem apenas 8 episódios e vê-se num instante, e sem conseguir parar, e com uma grande capacidade de nos deixar de queixo caído.
"Doença, velhice, aborrecimento, insuportável griséu. Nada que não seja sobejamente conhecido à face da terra."
in Dublinesca, de Enrique Vila-Matas (2010)
gri·séu
adjectivo
1. Cor cinzenta esverdeada.
substantivo masculino
2. [Portugal: Algarve] Ervilha grada.
Engraçada a forma como descobrimos regionalismos. Com que então no Algarve griséu é ervilha grada! Muito bom, mas depreendo que o autor de Dublinesca não estava a pensar em ervilhas associadas à velhice e ao aborrecimento. Não deixa de ter uma certa piada, porque há muita gente aborrecida quando vê ervilhas no prato. Adiante, aqui, podemos dizer que griséu é aquele estado cinzentão em que muitas vezes nos vamos encontrando ao longo do nosso caminho. Porque nem tudo é cor, arco-íris e dias felizes, o céu não está sempre azul e nem sempre é tudo sorrisos; o griséu cá está para nos dizer que a vida também tem tonalidades mais monocromáticas. E está tudo bem.
"- Seu grandíssimo filho da tua mãe que munge os cavalos e se esfrega em todos os que lhe aparecem à frente como uma cabra no curral e do teu pai que o mete no cu dos patos vivos e mortos e de todos os borra-botas a quem a tua irmã faz broches, que já nem tem tempo para falar, e do teu irmão dispara-punhetas e da tua avó que se põe a a coçá-la nas maçarocas de milho e do teu avô sonsinho que foi ao cu a mais meninos de coro que um cardeal e apanhou mais gonorreia que o teu tio, que o metia em todas as vacas da manjedoura, menos na tua filha que dessa tratavas tu nos dias pares e do burro nos dias ímpares."
in O Café Debaixo de Água, de Stefano Benni (1987)
Tau! É ou não é? Vou adoptar em especial o "dispara-punhetas".
Há uma mulher já entradota na idade e que é uma grande milf. Apanha o mesmo comboio que eu, e vejo-a menear as ancas conforme lá vai andando estação fora, provocando virares de cabeça nos elementos masculinos. Usa vestidos justos que lhe acentuam as formas, fazendo-me lembrar a música Popless dos GNR cada vez que lhe ponho a vista em cima - "lá vem ela, sabendo que é boa, e que esta cabeça ficou à toa".
Apesar de admirar a sua forma e beleza, há ali um pormenor que não bate certo. A mulher usa duas ou três malas de ombro, e leva-as nos braços. Coloca os cotovelos dobrados a 90 graus e pendura as malas em si como se fosse um cabide. Portanto, vai andando com aquele andar sexy e com aquela roupa reveladora, mas com os braços dobrados e estáticos a servir de cabide, o que torna o retrato um bocadinho surreal.
Nunca vi nada igual, até pode ser uma cena normal e eu desconhecer esta tendência de moda. Mas parece-me estranho, e apetece-me perguntar-lhe porque é que não usa uma mala maior com tudo o que precisa. Assim talvez lhe apreciasse mais vezes o rabo arrebitado em vez de me questionar o que se passa exactamente com aquelas malas. Mas podem existir várias explicações, como ter falta de equilíbrio e precisar de pesos iguais nas malas, ou pode ser muito leve e leva pedras lá dentro para não voar. Um dia pergunto-lhe e divulgarei aqui essa informação dramática.
Apesar de admirar a sua forma e beleza, há ali um pormenor que não bate certo. A mulher usa duas ou três malas de ombro, e leva-as nos braços. Coloca os cotovelos dobrados a 90 graus e pendura as malas em si como se fosse um cabide. Portanto, vai andando com aquele andar sexy e com aquela roupa reveladora, mas com os braços dobrados e estáticos a servir de cabide, o que torna o retrato um bocadinho surreal.
Nunca vi nada igual, até pode ser uma cena normal e eu desconhecer esta tendência de moda. Mas parece-me estranho, e apetece-me perguntar-lhe porque é que não usa uma mala maior com tudo o que precisa. Assim talvez lhe apreciasse mais vezes o rabo arrebitado em vez de me questionar o que se passa exactamente com aquelas malas. Mas podem existir várias explicações, como ter falta de equilíbrio e precisar de pesos iguais nas malas, ou pode ser muito leve e leva pedras lá dentro para não voar. Um dia pergunto-lhe e divulgarei aqui essa informação dramática.
"- Também este era um homem - disse ruborescendo - nascido do amor de um homem e de uma mulher. Tudo aquilo que fez, fê-lo porque estava na sua natureza. Como na tua e na minha. Se o vanilóquio dos "mestres" deste colégio, desta prisão, não extinguir em nós a nossa sede de verdade, ainda poderemos ser como ele."
in O Café Debaixo do Mar, de Stefano Benni (1987)
(latim vaniloquium, -ii)
substantivo masculino
[Pouco usado] Discurso bem enunciado, mas vazio de ideias.
Que é termo pouco usado já o sabia, mas desconhecia que poderia ser tão bem aplicado em tantas situações e conversas desta vida. Tanta, tanta gente, na televisão, nos jornais e, principalmente, nas redes sociais com um vanilóquio gigantesco. Agora, já sabem identificar aquele comentador especialista em vanilóquio, ou acusar aquele colega que fala muito mas sem substância de ter um grande vanilóquio. Vão obrigá-lo a calar-se um bocadinho para ir consultar um dicionário.
Lady Bird é uma miúda que está na fase difícil da adolescência - no último ano do secundário, já não é uma criança mas ainda não é uma adulta, e tem de fazer escolhas, pensar o futuro, lidar com a família, com as relações amorosas e as amizades. Portanto, é uma vida normal, igual à de muitos de nós que, de uma forma ou de outra, passámos por isso.
E é nesse reconhecimento da existência de um pouco de nós que consta a beleza deste filme. Sem ser pretensioso ou fantasista, encontra na realidade, que quase sempre é um pouco fria e cruel, o seu ponto alto.
O nome "Lady Bird" foi adoptado pela protagonista, e conseguiu "impingi-lo" a quase toda a gente. Ela está naquela idade em que tudo tem de ser rebatido e argumentado, em que as descobertas são diárias, ao mesmo tempo em que surge a necessidade de emancipação, que lhe traz algumas frustrações. Assistimos ao despertar do amor e naturais desilusões decorrentes; às mudanças e valorização da amizade; vemos a sua estranha relação com a mãe, ao mesmo tempo enternecedora e distante; e acima de tudo, à necessidade que tem de ser notada, de descobrir os seus sonhos, de voar sozinha para fora do ninho.
E é assim, sem artifícios e de forma natural, que a história de Lady Bird é contada e nos prende na sua normalidade, que, aliada a interpretações fantásticas e a uma personalidade fora de série por parte da protagonista, que este é um dos melhores filmes do ano passado, merecendo até a nomeação para Oscar de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Atriz Secundária, entre outros.
É sabido que a raça humana é uma valente merda. Cuspimos à grande no prato onde comemos, temos um umbigo gigante (o mundo gira à volta dele), o individualismo permanece, o egoísmo enaltece os comportamentos cada vez mais erráticos de quem se está a cagar para outra coisa que não eles próprios. Apesar dos esforços de muitas pessoas, e até mesmo da comunicação social que tem divulgado muitas imagens, estudos, chamadas de atenção, ora para o excessivo uso do plástico, ora para o esgotamento dos recursos, ora para as espécies que morrem e que sofrem com o nosso lixo, tal não é suficiente para uma geração muito, muito rasca, que neste momento assola o país.
Este vídeo foi gravado por estes jovens que se dispuseram a limpar a porcaria que os outros fizeram na praia de Carcavelos, e fazem um apelo para que cada um cumpra a sua parte. Reuniram sacos e sacos de lixo, ao fim de um dia com aquele calor infernal que tivemos há duas semanas. Estas atitudes são louváveis, e quem de nós (civilizados) nunca andou com um saquinho a apanhar merda dos outros na praia? Tudo muito bem, só que esses canalhas vão achar que têm criados, que não têm de limpar porque há quem limpe, e mesmo se não houver, é para o lado que dormem melhor.
Um exemplo fulcral é o Sudoeste. Um festival da pastilha para miúdos da pastilha típicos que vão lá para tudo e mais alguma coisa menos pela música e para serem civilizados. Como moça alentejana, eu fui ao Sudoeste, claro, era o apogeu do verão. E posso garantir que isto não era assim. E eu tinha os cornos no ar nessa altura da vida em que tudo acontece, e mesmo assim, eu e os meus amigos tínhamos o mínimo de consciência, e nunca vi as coisas chegarem ao estado, nem nada que se pareça, com o que podemos ver. Nessa imagem, no topo, podem ver um print do recinto do Sudoeste este ano, e em baixo, uma fotografia do recinto do campismo do Vagos Metal Fest também este ano (tirada por uma pessoa conhecida). Os metaleiros é que são feios, porcos e maus, não é?
Não sei se o mal pode ser corrigido. É difícil endireitar quem se está a cagar, e vê-se que ninguém os meteu na linha quando deviam. É a geração que compra tudo feito, completamente sem valores, sem moral, sem hábitos que os ajudem a ser pessoas melhores. Não lêem, na televisão só vêem lixo dos degredos e afins, se vão ao cinema é para engatar e estar a falar, se vão para a praia é para fazer poluição sonora e física, se vão para os festivais é para beberem até cair, se vão à escola é para fazer merda e passar à rasca, enfim, não dão uma para a caixa, e o futuro é negro.
Este vídeo foi gravado por estes jovens que se dispuseram a limpar a porcaria que os outros fizeram na praia de Carcavelos, e fazem um apelo para que cada um cumpra a sua parte. Reuniram sacos e sacos de lixo, ao fim de um dia com aquele calor infernal que tivemos há duas semanas. Estas atitudes são louváveis, e quem de nós (civilizados) nunca andou com um saquinho a apanhar merda dos outros na praia? Tudo muito bem, só que esses canalhas vão achar que têm criados, que não têm de limpar porque há quem limpe, e mesmo se não houver, é para o lado que dormem melhor.
Mais fotos de exemplo de uma rapariga indignada com o lixo nessa mesma praia. Eu sei que há porcos de merda de todas as idades, de todos os estratos sociais, mas parece-me, de acordo com os relatos, com as fotos, vídeos, que os adolescentes de hoje são uns burros acéfalos e vaidosos que se importam mais com as selfies do que a morte do planeta, e que o nível de bateria do telemóvel é mais preocupante do que a extinção das espécies ou a escassez de recursos. Odeio generalizações, mas estes chamados adolescentes da pastilha deviam ficar sem um dedo por cada porcaria que deitam para o chão, até terem apenas um coto que nem lhes permitisse limpar o rabo.
Um exemplo fulcral é o Sudoeste. Um festival da pastilha para miúdos da pastilha típicos que vão lá para tudo e mais alguma coisa menos pela música e para serem civilizados. Como moça alentejana, eu fui ao Sudoeste, claro, era o apogeu do verão. E posso garantir que isto não era assim. E eu tinha os cornos no ar nessa altura da vida em que tudo acontece, e mesmo assim, eu e os meus amigos tínhamos o mínimo de consciência, e nunca vi as coisas chegarem ao estado, nem nada que se pareça, com o que podemos ver. Nessa imagem, no topo, podem ver um print do recinto do Sudoeste este ano, e em baixo, uma fotografia do recinto do campismo do Vagos Metal Fest também este ano (tirada por uma pessoa conhecida). Os metaleiros é que são feios, porcos e maus, não é?
Não sei se o mal pode ser corrigido. É difícil endireitar quem se está a cagar, e vê-se que ninguém os meteu na linha quando deviam. É a geração que compra tudo feito, completamente sem valores, sem moral, sem hábitos que os ajudem a ser pessoas melhores. Não lêem, na televisão só vêem lixo dos degredos e afins, se vão ao cinema é para engatar e estar a falar, se vão para a praia é para fazer poluição sonora e física, se vão para os festivais é para beberem até cair, se vão à escola é para fazer merda e passar à rasca, enfim, não dão uma para a caixa, e o futuro é negro.
Há dias esbarrei com um colega, e encetou-se a seguinte conversa:
Ele, todo contente: Oláááá! Que tal?? Estou de volta!!
Eu: Então, estiveste de férias?
Ele: Não, estive noutra empresa durante 2 anos...
As pessoas não acreditam quando eu digo que sou anti-social ao ponto de me esquecer que elas existem. Pobres ingénuos, a acharem que a sua ausência é notada. Se este e outros colegas me levassem a sério tinha-se poupado um momento bastante constrangedor que terminou com o senhor a ir embora de fronha triste.
"Lavado e enxuto, penteado sem o auxílio do espelho, entrou no quarto, fez rapidamente a cama, vestiu-se e passou à cozinha para preparar o pequeno-almoço, composto, como de costume, de sumo de laranja, torradas, café com leite, iogurte, os professores precisam de ir bem alimentados à escola para poderem arrostar com o duríssimo trabalho de plantar árvores ou simples arbustos da sabedoria em terrenos que, na maior parte dos casos, puxam mais para o sáfaro do que para o fecundo."
in O Homem Duplicado, de José Saramago (2002)
sá·fa·ro
adjectivo
1. Bravio; esquivo; difícil de amansar.
2. Agreste; inculto.
3. Rude; desconfiado.
4. Alheio; apartado; distante.
Nesta frase Saramago oferece-nos um pensamento divertido, de um sentimento de humor "fecundo", para me apresentar o desconhecido "sáfaro", que já se adivinhava ser o oposto, mas que fica aqui registado para futura utilização e para conhecermos todos os seus significados. Ora sabe-se que aqui se aplica principalmente o número 2, mas podemos dizer que tal tipo é sáfaro quando tem um feitio de merda ou quando pensa frequentemente na morte da bezerra. Portanto, é termo completamente aplicável à minha pessoa, podia ser até nome do meio.
Eve (Sandra Oh) é uma investigadora do MI5 mas com um papel algo enfadonho e pouco participativo. Cedo percebemos que ambiciona muito mais. Os psicopatas atraem-na, ela quer entendê-los, percebê-los, desvendá-los e apanhá-los. E a sua vontade chama a atenção de uma superior, que está a levar a cabo uma investigação pela porta do cavalo acerca de uma assassina internacional. Eve é então convidada, para seu extremo gáudio, a liderar uma equipa para tentar apanhar uma das maiores assassinas de todos os tempos.
Villanelle (Jodie Comer) é essa mulher misteriosa, uma assassina profissional excelente no que faz e que ultimamente tem estado na ribalta porque as suas vítimas têm sido de alto gabarito. Eve e a sua equipa sentem dificuldade em acompanhá-la e a encontrar sentido nas mortes que vão ocorrendo em todo o mundo e que aparentemente não têm qualquer ligação.
É verdade que comecei a ver esta série pela Sandra Oh. Nos tempos em que ainda via a Anatomia de Grey adorava-a e quando percebi que este seria um registo completamente diferente a curiosidade surgiu. No entanto, acabei por me apaixonar forte e feio pela Jodie Comer. Deve ser um dos melhores desempenhos a que já assisti nas séries que já acompanhei, e já vi centenas.
A sua falta de empatia (que contribui para o bom desempenho da sua profissão de assassina) faz com que imite comportamentos para se adaptar às situações, o que origina cenas muito, muito cómicas, que, dentro do tema, fazem-nos perguntar a nós próprios porque é que estamos a rir tanto quando o tema é a morte e há sangue, cadáveres e violência no ecrã. O humor negro impera, fazendo desta série um sucesso numa área em que não é fácil brilhar - o thriller / comédia.
Para além disso, a relação platónica que se vai construindo entre Eve e Villanelle, entre perseguidora e perseguida, toma outros contornos, também eles engraçados e inesperados.
Se tiverem oportunidade experimentem ver, penso que serve a todos os gostos. Acho que nunca tinha gostado de uma série de investigação / crime que se desse tanto à comédia. Mas tem ali algo de refinado e raro, não é uma comédia óbvia. Só pelas interpretações vale a pena.