Os fingidores

by - terça-feira, junho 09, 2015

Muitos são os estudos sobre o assunto, mas não são precisos mais estudos e artigos quando se sente a injustiça na pele todos os dias.

O gajo que trabalha e que faz as coisas andar para a frente tem menos valor para a empresa do que aquele que finge trabalhar. 

Estou rodeada de pessoas assim. Passeiam-se de um lado para o outro no corredor a falar ao telemóvel, a falar com colegas na copa, a ir beber café, a rir a bandeiras despregadas num open space, a fazer piadas para os chefes, a dar-lhes high fives e pancadinhas nas costas. Estes colegas parecem cães atrás de quem tem o poder, a dizer que sim a tudo. Ali, não é o cliente que tem razão, é quem lhes paga.

Estas pessoas adoram pavonear-se, bradar aos céus qualquer feito que conseguem. Contam os dias para os eventos da empresa, e não falam de outra coisa, antes e depois de acontecerem. Quem apanhou a maior budeira, quem flirtou com quem, quem caiu, quem gregou, quem comeu que nem um animal. Partilham ideias sobre moda, culinária, desporto, falam dos filhos, dos recitais de piano, das aulas de karaté e da chatice de mudar a fralda.

E qual é a função delas? Não sei. Não faço ideia. Estou ali há anos e não sei o que fazem. A verdade é que não fazem nada. E sabem que mais? Todos estes coleguinhas ganham mais do que eu. Têm melhor avaliação que eu. São mais bem vistos do que eu. Os chefes sabem o nome deles, e não sabem o meu. Têm melhores prémios que o meu. Podem ir passar férias onde quiserem, eu não saio da Margem Sul há anos. Usam carro próprio para ir para o trabalho, e eu não prescindo da Fertagus. Almoçam fora, e eu como num tupperware todos os dias. Bebem sumos detox e eu bebo água. Vestem grandes marcas, eu visto-me no chinês e na Primark. Vão ao cabeleireiro e à manicure uma vez por semana, eu corto o meu próprio cabelo há 5 anos e nunca fui à manicure na vida. Fazem depilação a laser, eu continuo a usar cera de marca branca.

Os chefes compactuam com isto tudo. Mais do que uma vez disseram alto e bom som que preferem que um colaborador tenha espírito de equipa (leia-se, bajulação) do que eficiência (leia-se, produzir aquilo para que foi contratado).

É uma das maiores injustiças, sentidas por milhares e milhares de pessoas só no nosso país. É preocupante, desmotivante, desgastante, põe-nos os nervos à flor da pele e leva-nos ao limite. Uma coisa é certa - não vou ceder, nunca, à bajulice e às lambidelas nos sapatos, para agradar seja a quem for. Prefiro ser pobre, trabalhadora e honrada. Vou continuar a juntar cada cêntimo para fazer frente a todas as dificuldades que me apareçam, porque no dia em que lhes começar a passar graxa será o dia em que enlouqueci de vez.



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